O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) sempre foi conhecido por sua habilidade estratégica em moldar o cenário político a seu favor. A recente criação de três novas províncias em Angola levanta questões sobre os verdadeiros motivos por trás dessa decisão. Embora o discurso oficial possa mencionar o desenvolvimento regional e a descentralização, uma análise mais profunda sugere que essa reestruturação geográfica visa, na verdade, garantir uma vantagem eleitoral significativa nas próximas eleições.
O Contexto das Novas Províncias
A decisão de criar três novas províncias—uma delas a partir da divisão de Luanda e as outras duas a partir do Cuando Cubango e do Moxico—tem implicações eleitorais diretas. Cada nova província implica a adição de cinco deputados ao círculo provincial, totalizando 15 novos assentos na Assembleia Nacional. Este movimento, aparentemente administrativo, pode ser interpretado como uma tentativa de manipular a representação política para favorecer o partido no poder.
A Estratégia em Luanda
Luanda, a capital e maior cidade de Angola, tem sido um campo de batalha eleitoral crucial. Nas eleições de 2022, o MPLA enfrentou dificuldades em áreas urbanas, onde a população está mais conectada e politicamente consciente. Em contrapartida, o partido conseguiu melhor desempenho em áreas mais rurais, onde a influência do Estado e a dependência econômica são mais pronunciadas.
Com a criação da nova província de Icolo e Bengo, composta principalmente por áreas rurais de Luanda, o MPLA parece estar tentando isolar os eleitores urbanos, que tendem a apoiar a UNITA, dos eleitores rurais, que têm se mostrado mais favoráveis ao partido no poder. Essa divisão poderia diluir o impacto do voto urbano, permitindo que o MPLA assegure mais cadeiras através do apoio nas áreas rurais.
Quando Cubango e Moxico: Replicação de Resultados
A divisão das províncias de Cuando Cubango e Moxico, onde o MPLA obteve uma maioria significativa nas últimas eleições, pode ser vista como uma tentativa de replicar esses resultados em novas unidades administrativas. Ao criar novas províncias, o partido tem a oportunidade de aumentar sua representação parlamentar, duplicando o número de deputados eleitos em regiões onde já detém forte controle.
Essa estratégia não só fortalece a presença do MPLA no parlamento, mas também enfraquece a capacidade da oposição de competir de maneira eficaz, especialmente em áreas onde a divisão territorial dilui a força de seu eleitorado.
As Implicações Constitucionais
O aumento no número de deputados pode abrir caminho para mudanças mais profundas na estrutura política de Angola. Um possível cenário, como mencionado, seria o MPLA usar a necessidade de “ajuste” no número de deputados como pretexto para alterar a Constituição, possivelmente estendendo o mandato do Presidente da República. Tal movimento, feito de maneira discreta e estratégica, consolidaria ainda mais o poder do partido no longo prazo.
Conclusão: Uma Estratégia Calculada
A criação dessas novas províncias não é apenas uma questão de administração territorial; trata-se de uma estratégia política calculada para garantir que o MPLA mantenha e amplie seu domínio nas eleições futuras. Ao manipular a geografia eleitoral e potencialmente ajustar a Constituição, o partido busca consolidar sua hegemonia, mesmo em um cenário onde o apoio popular possa estar em declínio. É um movimento que exige atenção e vigilância por parte da sociedade civil e da oposição, para garantir que as eleições em Angola permaneçam justas e representativas.